quinta-feira, 15 de julho de 2010

Porque foram condenados os presos que Cuba vai libertar?


A igreja católica de Cuba anunciou, dia 7, um acordo com o governo de Raúl Castro e o cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, com a assistência do ministro de Relações Exteriores da Espanha, Miguel Ángel Moratinos, para libertar 52 presos remanescentes do desmantelamento da conspiração de 2002/2003 pelo fim do socialismo na ilha. Além dos questões humanitárias, o tema envolve aspectos políticos referentes à resistência antiimperialista na ilha que não podem ser postas de lado.



O acordo beneficia 52 presos; cinco presos terão libertação imediata (Antonio Villarreal Acosta, Lester González Pentón, Luis Milán Fernández, José Luis García Paneque e Pablo Pacheco Ávila), e os demais 47 sairão num prazo entre três e quatro meses e poderão viajar para a Espanha, "se assim o desejarem", como declarou o chanceler espanhol. Em maio, quando as negociações entre o governo de Havana e a Igreja começaram, já havia sido libertado o preso Ariel Sigler.



Os presos fazem parte de um grupo detido, julgado e condenado em 2003 por fazerem parte de uma ampla conspiração antissocialista articulada em torno do chamado Projeto Varela, que, com apoio ativo do governo dos EUA, reuniu 48 organizações antirrevolucionárias (cinco delas com sede nos EUA) para investir contra o governo socialista e iniciar o que chamavam de "transição" para o capitalismo.



O plano previa a formação de uma grande aliança opositora com o objetivo de restabelecer a Constituição de 1940 e, segundo Angel Polanco (presidente do Comitê Pró-Mudança), obter adesões a um abaixo-assinado pela renúncia do governo socialista, pela mudança no sistema político e pela convocação de um Congresso da República, levando ao poder um governo provisório para promover o desmonte do estado socialista.


Apresentada pela imprensa conservadora como um movimento pacifista de oposição ao regime instaurado em 1959, o Projeto Varela fez parte da tentativa norte-americana de desestabilizar o regime e surgiu num ambiente onde as ameaças contra a soberania e a independência de Cuba se multiplicavam.


Declarações de autoridades norte-americanas deixavam claro que ele fazia parte dos preparativos da invasão da ilha. Em 2002 o governador da Flórida, Jeb Bush (irmão de George Bush), pedira ao irmão presidente para providenciar aquela invasão; o embaixador dos EUA na República Dominicana, Hans Hertell disse que o ataque ao Iraque era um "sinal muito positivo e exemplo muito bom para Cuba", sendo o começo de "cruzada libertadora que abarcará todos os países do mundo, Cuba incluída"; o secretário da Defesa Donald Rumsfeld disse, por sua vez, que, se fossem encontrados sinais de armas de destruição em massa em Cuba, "teríamos de agir".


Em abril de 2003 o governo Bush colocou Cuba no "eixo do mal", países que estavam na mira dos EUA por resistirem a suas ameaças de agressão. Um dos pretextos para isso era a acusação falsa feita por John Bolton, subsecretário de Estado, de que Cuba mantinha um programa de armas biológicas. Em outubro de 2003, o próprio Bush disse que "Cuba deve mudar" e que, evidentemente, "o regime de Castro não mudará por decisão própria". E em dezembro circulavam notícias de que vários órgãos do governo dos EUA trabalhavam em planos para a intervenção em Cuba.


No interior da ilha, sob a coordenação de James Cason, chefe do Escritório de Interesses dos EUA em Cuba, os preparativos para a ação contra o governo socialista foram acelerados. A distribuição de dólares foi farta, envolvendo desde o apoio à implantação de emissoras de rádio até o pagamento de cerca de 100 dólares mensais para aqueles que compareciam àquele departamento que é uma espécie de embaixada não formal dos EUA.


Foi uma enxurrada de pelo menos 45 milhões de dólares para financiar a conspiração. Em 2000 a Agência Internacional para o Desenvolvimento dos EUA (Usaid) deu 670 mil dólares para a publicação de panfletos anticomunistas. Outro 1,6 milhão de dólares foi destinado para ONGs contrarrevolucionárias; mais 2,4 milhões foram para o planejamento da "transição" e avaliação do programa.


O Centro para uma Cuba Livre recebeu 2,3 milhões em 2002 para aliciar grupos de oposição; o Grupo de Trabalho da Dissidência Interna ficou com 250 mil; Freedom House e seu Programa para a Transição de Cuba teve 1,3 milhão; o Grupo de Apoio à Dissidência, 1,2 milhão; a agência Cubanet, 1,1 milhão entre 2001 e 2002; o Centro Americano para o Trabalho Internacional de Solidariedade, 168 mil; a Ação Democrática Cubana, 400 mil em 2002.

Enquanto isso, o secretário de Estado assistente para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Curtis Struble, disse que a Usaid investiria mais 7 milhões na conspiração anticastrista, e o general Colin Powell, secretário da Estado de Bush, anunciou o investimento de 26,9 milhões na Rádio e na Televisão Martí, mantidas pela CIA para transmitir programação contrarrevolucionária e articular a ação dos conspiradores.


Foi a participação ativa nesta conspiração estrangeira contra o governo de seu país que levou à prisão daqueles que, agora, são beneficiados pelo acordo entre o governo de Raúl Castro e o cardeal Jaime Mendonça. Eles foram condenados sob a acusação de crimes contra a independência e a integridade territorial de Cuba. Foram condenados por trair a pátria socialista a serviço da principal potência imperialista de nosso tempo, os EUA.


Associação Cultural José Martí - RJ

quinta-feira, 8 de julho de 2010

112 anos de intervenção estadunidense em Porto Rico



Por Natasha Pitts
O assunto é antigo, mas continua sem resolução. No próximo dia 25, Porto Rico completará 112 anos sob a intervenção dos Estados Unidos. Na tentativa de reverter esta situação, autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU) reafirmaram o direito inalienável dos porto-riquenhos à livre determinação e independência e exigiram aos EUA que procedam com a descolonização.


A Declaração sobre a concessão da independência aos países e povos coloniais, contida na resolução 1514 da XV Assembleia Geral da ONU, de 14 de dezembro de 1960, e o informe do Relator do Comitê Especial sobre a aplicação das resoluções acerca de Porto Rico, são documentos que há muito exigem a liberação do país da condição de colônia dos Estados Unidos.


Além destes, vários outros documentos e mecanismo reafirmam o direito dos porto-riquenhos à descolonização. Chega a 28 o número de resoluções e decisões aprovadas pelo Comitê Especial sobre a questão de Porto Rico. Contudo, mesmo com estas interferências, os EUA não colocaram em marcha atitudes concretas que cooperem com o processo e propiciem a aplicação da resolução 1514.


As autoridades da ONU pontuaram ainda que toda iniciativa para a solução do status político de Porto Rico deve ser tomada originalmente pela população e "que o povo porto-riquenho constitui uma nação latino-americana e caribenha que tem sua própria e inconfundível identidade nacional". O organismo exige que o Governo dos EUA assuma a responsabilidade de acelerar um processo que desvincule totalmente Porto Rico do domínio e da situação de colônia estadunidense.


Dentro deste processo mais amplo, também é exigida a limpeza e descontaminação de regiões como Vieques, utilizada há mais de 60 anos pela marinha estadunidense para manobras de tiro e exercícios de estratégia naval. As atividades trouxeram incontáveis danos para a saúde da população, para o meio ambiente, assim como para o desenvolvimento econômico e social do município.


O Governo dos EUA também é chamado a devolver o território de Ceiba, utilizado para experiência com matérias tóxicos, e a libertar os presos políticos encarcerados em prisões estadunidenses há mais de 20 anos, por causas relacionadas com a luta pela independência porto-riquenha.


Breve histórico


Porto Rico esteve sob colonização espanhola por cerca de 400 anos, no entanto, em 1898, o exército estadunidense invadiu a ilha durante a chamada Guerra Hispano-cubano-americana e o território passou a ser colônia norte-americana. Desde então, os porto-riquenhos têm nacionalidade norte-americana. Mesmo nesta condição, não podem votar em eleições presidenciais ou legislativas.


Desde 1952, Porto Rico está sob o status de Estado Livre Associado. Até hoje sua população luta pela total desvinculação com os Estados Unidos, mesmo sofrendo intimidações e repressões.

Publicado originalmente em ADITAL.
Contribuição de Na Práxis.

domingo, 25 de abril de 2010

A mídia não comenta, mas Cuba realiza eleições neste domingo (respaldo à revolução)



Para algumas pessoas no mundo deve ter soado um pouco estranho o anúncio do Conselho de Estado da República de Cuba de que no domingo 25 de Abril se efetuarão as eleições para delegados às 169 Assembleias Municipais do Poder Popular.

Isso é perfeitamente compreensível, pois um dos componentes principais da guerra mediática contra a revolução cubana tem sido negar, escamotear ou silenciar a realização de eleições democráticas: as parciais, a cada dois anos e meio, para eleger delegados do conselho, e as gerais, a cada cinco, para eleger os deputados nacionais e integrantes das assembleias provinciais.

Cuba entra no seu décimo terceiro processo eleitoral desde 1976 com a participação entusiasta e responsável de todos os cidadãos com mais de 16 anos de idade. Nesta ocasião, são eleições parciais.

Com a tergiversação, a desinformação e a exclusão das eleições em Cuba da agenda informativa de cada um, os donos dos grandes meios de comunicação tentaram afiançar a sua sinistra mensagem de que os dirigentes em Cuba, a diferentes níveis, não são eleitos pelo povo.

Isso apesar de, felizmente, nos últimos anos, sobretudo depois da irrupção da internet, os controles midiáticos terem começado a se quebrar aceleradamente, e a verdade sobre a realidade de Cuba, nas eleições e noutros acontecimentos e temas, ter vindo à tona.

Não dar informação sobre as eleições em Cuba, nem da sua obra na saúde, educação, segurança social e outros temas, decorre de que os poderosos do mundo do capital temem a propagação do seu exemplo, à medida que vai ficando completamente clara a ficção de democracia e liberdade que durante séculos se vendeu ao mundo.

Apreciamos, no entanto, que o implacável passar do tempo é adverso aos que tecem muros de silêncio. Mesmo que ainda andem por aí alguns comentadores tarefeiros ou políticos defensores de interesses alheios ou adversos aos povos e que continuam a afirmar que “sob a ditadura dos Castro em Cuba não há democracia, nem liberdade, nem eleições”. Trata-se de uma ideia repetida frequentemente para honrar aquele pensamento de um ideólogo do nazismo, segundo o qual uma mentira repetida mil vezes poderia converter-se numa verdade.

À luz das eleições convocadas para o próximo dia 25 de Abril, quero apenas dizer-vos neste artigo, dentro da maior brevidade possível, quatro marcas do processo eleitoral em Cuba, ainda suscetíveis de aperfeiçoamento, que marcam substanciais diferenças com os mecanismos existentes para a celebração de eleições nas chamadas “democracias representativas”. Esses aspectos são: 1) Registo Eleitoral; 2) Assembleias de Nomeação de Candidatos a Delegados; 3) Propaganda Eleitoral; e 4) A votação e o escrutínio.

O Registro Eleitoral é automático, universal, gratuito e público. Ao nascer um cubano, ele não só tem direito a receber educação e saúde gratuitamente, como também, quando chega aos 16 anos de idade, automaticamente é inscrito no Registro Eleitoral.

Por razões de sexo, religião, raça ou filosofia política, ninguém é excluído. Nem se pertencer aos corpos de defesa e segurança do país. A ninguém é cobrado um centavo por aparecer inscrito, e muito menos é submetido a asfixiantes trâmites burocráticos como a exigência de fotografias, selos ou carimbos, ou a tomada de impressões digitais. O Registro é público, é exposto em lugares de massiva afluência do povo em cada circunscrição.

Todo esse mecanismo público possibilita, desde o início do processo eleitoral, que cada cidadão com capacidade legal possa exercer o seu direito de eleger ou de ser eleito. E impede a possibilidade de fraude, o que é muito comum em países que se chamam democráticos. Em todo o lado a base para a fraude está, em primeiro lugar, naquela imensa maioria dos eleitores que não sabe quem tem direito a votar.

Isso só é conhecido por umas poucas maquinarias políticas. E, por isso, há mortos que votam várias vezes, ou, como acontece nos Estados Unidos, numerosos cidadãos não são incluídos nos registos porque alguma vez foram condenados pelos tribunais, apesar de terem cumprido as suas penas.

O que mais distingue e diferencia as eleições em Cuba de outras são as assembleias de nomeação de candidatos. Noutros países, a essência do sistema democrático é que os candidatos surjam dos partidos, da competição entre vários partidos e candidatos.

Isso não é assim em Cuba. Os candidatos não saem de nenhuma maquinaria política. O Partido Comunista de Cuba, força dirigente da sociedade e do Estado, não é uma organização com propósitos eleitorais. Nem apresenta, nem elege, nem revoga nenhum dos milhares de homens e mulheres que ocupam os cargos representativos do Estado cubano. Entre os seus fins nunca esteve nem estará ganhar lugares na Assembleia Nacional ou nas Assembleias Provinciais ou Municipais do Poder Popular.

Em cada um dos processos celebrados até à data foram propostos e eleitos numerosos militantes do Partido, porque os seus concidadãos os consideraram pessoas com méritos e aptidões, mas não devido à sua militância.

Os cubanos e as cubanas têm o privilégio de apresentar os seus candidatos com base nos seus méritos e capacidades, em assembleias de residentes em bairros, demarcações ou áreas nas cidades ou no campo. De braço no ar é feita a votação nessas assembleias, de onde resulta eleito aquele proposto que obtenha maior número de votos. Em cada circunscrição eleitoral há varias áreas de nomeação, e a Lei Eleitoral garante que pelo menos 2 candidatos, e até 8, possam ser os que aparecem nos boletins para a eleição de delegados do próximo dia 25 de Abril.

Outra marca do processo eleitoral em Cuba é a ausência de propaganda custosa e ruidosa, a mercantilização que está presente noutros países, onde há uma corrida para a obtenção de fundos ou para privilegiar uma ou outra empresa de relações públicas.

Nenhum dos candidatos apresentados em Cuba pode fazer propaganda a seu favor e, obviamente, nenhum necessita de ser rico ou de dispor de fundos ou ajuda financeira para se dar a conhecer. Nas praças e nas ruas não há ações a favor de nenhum candidato, nem manifestações, nem carros com alto-falantes, nem cartazes com as suas fotografias, nem promessas eleitorais; na rádio e na televisão também não; nem na imprensa escrita.

A única propaganda é executada pelas autoridades eleitorais e consiste na exposição em lugares públicos na área de residência dos eleitores da biografia e fotografia de cada um dos candidatos. Nenhum candidato é privilegiado sobre outro. Nas biografias são expostos méritos alcançados na vida social, a fim de que os eleitores possam ter elementos sobre condições pessoais, prestígio e capacidade para servir o povo de cada um dos candidatos e emitir livremente o seu voto pelo que considere o melhor.

A marca final que queremos comentar é a votação e o escrutínio público. Em Cuba não é obrigatório o voto. Como estabelece o Artigo 3 da Lei Eleitoral, é livre, igual e secreto, e cada eleitor tem direito a um só voto. Ninguém tem, pois, nada que temer se não for ao seu colégio eleitoral no dia das eleições ou se decidir entregar o seu boletim em branco ou anulá-lo. Não acontece como em muitos países onde o voto é obrigatório e as pessoas são compelidas a votarem para não serem multadas, ou serem levadas a tribunal ou até para não perderem o emprego.

Enquanto noutros países, incluindo os Estados Unidos, a essência radica em que a maioria não vote, em Cuba garante-se que quem o deseje possa fazê-lo. Nas eleições efetuadas em Cuba desde 1976 até à data de hoje, em média, 97% dos eleitores foram votar. Nas últimas três, votaram mais de 8 milhões de eleitores.

A contagem dos votos nas eleições cubanas é pública, e pode ser presenciada em cada colégio por todos os cidadãos que o desejem fazer, inclusive a imprensa nacional ou estrangeira. E, para além disso, os eleitos só o são se alcançam mais de 50% dos votos válidos emitidos, e eles prestam contas aos seus eleitores e podem ser revogados a qualquer momento do seu mandato.

Aspiro simplesmente a que, com estas marcas agora enunciadas, um leitor sem informação sobre a realidade cubana responda a algumas elementares perguntas, como as seguintes: onde há maior transparência eleitoral e maior liberdade e democracia? Onde se obtiveram melhores resultados eleitorais: em países com muitos partidos políticos, muitos candidatos, muita propaganda, ou na Cuba silenciada ou manipulada pelos grandes meios, monopolizados por um punhado de empresas e magnatas cada vez mais reduzido?

E aspiro, para além disso, a que pelo menos algum dia, cesse na grande imprensa o muro de silêncio que se levantou sobre as eleições em Cuba, tal como em outros temas como a obra na saúde pública e na educação, e isso possa ser fonte de conhecimento para outros povos que merecem um maior respeito e um futuro de mais liberdades e democracia.

Por Juan Marrero, em Cuba Debate

O velho Malthus e os neomathusianos


Thomas Robert Malthus, filho de uma elite européia proprietária de terras, tornou-se um dos mais conhecidos estudiosos de população de sua época. Para ele, a populações humanas cresciam em progressão geométrica e, no entanto, com o passar do tempo, faltaria alimento. Como solução para o problema, Malthus propôs que dever-se-ia restringir esse crescimento, pois os meios de subsistência poderiam crescer somente em progressão aritmética. Segundo ele, esse crescimento populacional deve ser limitado através de todas as restrições ao nascimento e pelo aumento da mortalidade. Logo, para Malthus, o excesso populacional era a causa de todos os males da sociedade e, portanto, os pobres são os responsáveis pela pobreza e a miséria.
Esse pensamento excludente não pode ser desconsiderado, levando em conta que sua época de estudo (1650-1850), entretanto é inaceitável que na atualidade tenhamos teorias que ainda acreditem que o agente produtor da miséria seja os pobres e que a solução estão no controle de natalidade. Foi o que ocorreu esse ano (2009), quando o Fundo Populacional da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou que o controle de natalidade ajudaria a frear o aquecimento global. "Com o crescimento da população mundial, da economia e do consumo, além da capacidade da Terra de adaptar-se, as mudanças climáticas poderão se tornar mais extremas e catastróficas", diz o relatório divulgado pelo Fundo Populacional. Medidas como distribuição de preservativos e mais aconselhamento sobre o planejamento familiar ajudaria a diminuir as taxas de nascimento, e conseqüentemente frearia o aquecimento.
É interessante ressaltar que, os pobres não são agente causador da pobreza, e sim uma conseqüência dela. Em nenhum momento o Fundo Populacional propôs uma melhor distribuição de renda para ajudar a controlar o aquecimento (e junto com isso a pobreza). Outro aspecto relevante é que não há provas empíricas de que o controle de natalidade conterá as mudanças climáticas, logo isso é apenas uma aposta, e mesmo assim já foi colocada em um pronunciamento oficial do órgão.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Gegografia no Xama pré-vestibular


Buenas gurizada...

Na próxima semana iniciamos os trabalhos!

Geografia Bohreana todas as segundas (segundo e terceiro períodos) pela noite (não é mais quinta!).

Ficarei com a parte humana da geo e a Profa. Limara com a física.

é só chegar!

Abraços

domingo, 21 de março de 2010

Os fariseus e a dignidade - Emir Sader


O que sabem os leitores dos diários brasileiros sobre Cuba? O que sabem os telespectadores brasileiros sobre Cuba? O que sabem os ouvintes de rádio brasileiros sobre Cuba? O que saberia o povo brasileiro sobre Cuba, se dependesse da mídia brasileira?
O que mais os jornalistas da imprensa mercantil adoram é concordar com seus patrões. Podem exorbitar na linguagem, para badalar os que pagam seu salários. Sabem que atacar ao PT é o que mais agrada a seus patrões, porque é quem mais os perturba e os afeta. Vale até dar espaco para qualquer mercenário publicar calúnias contra o Lula, para, depois jogá-lo de volta na lata do lixo.
No circo dessa imprensa recentemente realizado em São Paulo, os relatos dizem que os donos das empresas – Frias, Marinhos – tinham intervenções mais discretas, – ninguem duvida das suas posiçõoes de ultra-direita -, mas seus empregados se exibiam competindo sobre quem fazia a declaração mais extremista, mais retumbante, sabendo que seriam recolhidas pela mídia, mas sobretudo buscando sorrisinho no rosto dos patrões e, quem sabe, uns zerinhos a mais no contracheque no fim do mês.
Quem foi informado pela imprensa que há quase 50 anos Cuba já terminou com o analfabetismo, que mais recentemente, com a participação direta dos seus educadores, o analfabetismo foi erradicado na Venezuela, na Bolívia e no Equador? Que empresa jornalística noiticiou? Quais mandaram repórteres para saber como países pobres ou menos desenvolvidos conseguiram o que mais desenvolvidos como os EUA ou mesmo o Brasil, a Argentina, o México, náo conseguiram?
Mandaram repórteres saber como funciona naquela ilha do Caribe, pouco desenvolvida economicamente, o sistema educacional e de saúde universal e gratuito para todos? Se perguntaram sobre a comparação feita por Michael Moore no seu filme "Sicko" sobre os sistemas de saúde – em particular o brutalmente mercantilizado dos EUA e o público e gratuito de Cuba?
Essas empresas privadas da mídia fizeram reportagens sobre a Escola Latinoamericana de Medicina que, em Cuba, já formou mais de cinco gerações de médicos de todos os países da América Latina e inclusive dos EUA, gratuitamente, na melhor medicina social do mundo? Foi despertada a curiosidade de algum jornalista, econômico, educativo ou não, sobre o fato de que Cuba, passando por grandes dificuldades econômicas – como suas empresas não deixam de noticiar – não fechou nenhuma vaga nem nas suas escolas tradicionais, nem na Escola Latinoamericana de Medicina, nem fechou nenhum leito em hospitais?
Se dependesse dessas empresas, se trataria de um regime “decrépito”, governado por dois irmãos há mais de 50 anos, um verdadeiro “goulag tropical”, uma ilha transformada em prisão.
Alguém tentou explicar como é possivel conviver esse tipo de sociedade igualitária com a base naval de Guantánamo? Se noticiam regularmente as barbaridades que ocorrem lá, onde presos sob simples suspeita, são interrogados e torturados – conforme tantas testemunhas que a imprensa se nega em publicar – em condições fora de qualquer jurisdição internacional?
Noticiam que, como disse Raul Castro, sim, se tortura naquela ilha, se prende, se julga e se condena da forma mais arbitrária possível, detidos em masmorras, como animais, mas isso se passa sob responsabilidade norteamericana, desse mesmo governo que protesta por uma greve de fome de uma pessoa que – apesar da ignorância de cronistas da família Frias – não é um preso, mas está livre, na sua casa?
Perguntam-se por que a maior potência imperial do mundo, derrotada por essa pequena ilha, ainda hoje tem um pedaco do seu territorio? Escandalizam-se, dizendo que se “passou dos limites”, quando constatam que isso se dá há mais de um século, sob os olhos complacentes da “comunidade internacional”, modelo de “civilização”, agentes do colonialismo, da escravidão, da pirataria, do imperialismo, das duas grandes guerras mundiais, do fascismo?
Comparam a “indignação” atual dos jornais dos seus patrões com o que disseram ou calaram sobre Abu-Graieb? Sobre os “falsos positivos” (sabem do que se trata?) na Colômbia? Sobre a invasao e os massacres no Panamá, por tropas norteamericanas, que sequestraram e levaram para ser julgado em Miami seu ex-aliado e então presidente eleito do país, Noriega, cujos 30 anos foram completamente desconhecidos pela imprensa? Falam do muro que os EUA construíram na fronteira com o México, onde morre todos os anos mais gente do que em todo tempo de existência do muro de Berlim? A ocupação brutal da Palestina, o cerco que ainda segue a Gaza, é tema de seus espacos jornalisticos ou melhor calar para que os cada vez menos leitores, telespectadores e ouvintes possam se recordar do que realmente é barbarie, mas que cometida pela “civilizada” Israel – que ademais conta com empresas que anunciam regularmente nos orgãos dessas empresas – deve ser escondida? Que protestos fizeram os empregados da empresa que emprestou seus carros para que atuassem os servicos repressivos da ditadura, disfarçaados de jornalistas, para sequestrar, torturar, fuzilar e fazer opositores desaparecerem? Disseram que isso “passou de todos os limites” ou ficaram calados, para não perder seus empregos?
Mas morreu um preso em Cuba. Que horror! Que oportunidade para bajular os seus patrões, mostrando indignação contra um país de esquerda! Que bom poder reafirmar diante deles que se se foi algum dia de esquerda, foi um resfriado, pego por más convivências, em lugares que não frequentam mais; já estão curados, vacinados, nunca mais pegarão esse vírus. (Um empregado da família Frias, casado com uma tucana, orgulha-se de ter ido a todos os Foruns Econômicos de Davos e a nenhum Fórum Social Mundial. Ali pôde conhecer ricaços e entrevistá-los, antes que estivessem envoldidos em escândalos, quebrassem ou fossem para a prisão. Cada um tem seu gosto, mas não dá para posar como “progressista”, escolhendo Davos a Porto Alegre.)
Não conhecem Cuba, promovem a mentira do silêncio, para poder difamar Cuba. Não dizem o que era na época da ditadura de Batista e em que se transformou hoje. Não dizem que os problemas que têm a ilha é porque não quer fazer o que fez o darling dessa midia, FHC, impondo duro ajuste fiscal para equilibrar as finanças públicas, privatizando, favorecendo o grande capital, financeirizando a economia e o Estado. Cuba busca manter os direitos universais a toda sua população, para o que trata de desenvolver um modelo econômico que não faça com que o povo pague as dificuldades da economia. Mentem silenciando sobre o fato de que, em Cuba, não há ninguem abandonado nas ruas, de que todos podem contar com o apoio do Estado cubano, um Estado que nunca se rendeu ao FMI.
Cuba é a sociedade mais igualitária do mundo, a mais solidária, um país soberano, assediado pelo mais longo bloqueio que a história conheceu, de quase 50 anos, pela maior potência econômica e militar da história. Cuba é vítima privilegiada da imprensa saudosa do Bush, porque se é possivel uma sociedade igualitária, solidária, mesmo que pobre, que maior acusação pode haver contra a sociedade do egoísmo, do consumismo, da mercantilizacao, em que tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra?
Como disse Celso Amorim, o Ministro de Relações Exteriores do Brasil: os que querem contribuir a resolver a situação de Cuba tem uma fórmula muito simples – terminem com o bloqueio contra a ilha. Terminem com Guantanamo como base de terrorismo internacional, terminem com o bloqueio informativo, dêem aos cubanos o mesmo direito que dão diariamente aos opositores ao regime – o do expor o que pensam. Relatem as verdades de Cuba no lugar das mentiras, do silêncio e da covardia.
Diante de situações como essa, a razão e a atualidade de José Martí:
“Há de haver no mundo certa quantidade de decoro,como há de haver certa quantidade de luz.Quando há muitos homens sem decoro, há sempre outrosque têm em si o decoro de muitos homens.Estes são os que se rebelam com força terrívelcontra os que roubam aos povos sua liberdade,que é roubar-lhes seu decoro.Nesses homens vão milhares de homens,vai um povo inteiro,vai a dignidade humana…